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Pablo Gamallo

A fê mística na imersão parcial

13:04 15/03/2010

A guerra de quotas e decretos no ensino não universitário não é uma liorta entre modelos linguísticos. É uma liorta política e de fê, não técnica. Os três decretos conhecidos defendem o mesmo modelo, a imersão parcial em galego, com mui pequenas diferenças. Frente ao <=50% em galego do decreto Fraga, o bipartido aprovou o >=50%. Era difícil encontrar algo entre os dous, mas o anteprojeto anunciado este sábado 13 de Março conseguiu encontrar um espaço intermédio: o galego terá uma presença por volta do 50% , o que em notação matemática se escreve ~50%. Desde há muito tempo uma pergunta paira no ar mas pouca gente tem vontade de buscar uma resposta: é o modelo de imersão parcial (seja o <=50, >=50 ou ~50%) adequado para que os moços e moças atingam competências iguais em galego e castelão ao finalizarem o ensino secundário?

É óbvio que para poder respondermos a esta pergunta precisamos fazer um seguimento e avaliação dos nossos estudantes e, em função dos resultados, qualificar de apropriado ou não o modelo linguístico que nos demos há 16 anos por 'obra y gracia de Dios'. Nesta altura do raciocínio, muitas mais perguntas surgem em cascata: existem essas avaliações? Que resultados derom? Se não existem, como é que não se fizerom? São mui caras? São mais caras que fazer enquisas aos pais? Por que sabemos cousas como o promédio de infedilidades dos esponhóis ou o número de orgasmos por mês dos maiores de 65 anos e não sabemos o nível de galego frente ao castelão dos nossos estudantes? Deveríamos falar com Íker Jiménez (ou com o finado Jiménez del Oso) para resolver este mistério?

Na Catalunha, o plano estratégico de imersão total instaurado desde os anos oitenta deu lugar a inumeráveis teses de doutoramento sobre o grau de capacitação do catalão e o castelão dos nenos e nenas em diferentes fases do processo de aprendizagem. Criou-se um grupo de investigação interdisciplinar, o Sedec, de reconhecido prestígio internacional focado no estudo da imersão linguística. Fundarom-se organizações internacionais como Institut Europeu de Programes de Imersió (IEPI). Celebráronse eventos internacionais tais como a European Conference on Immersion Programmes, e mesmo aparecerom publicações internacionais com alto factor de impacto como a revista Imersió Lingüística. O plano de imersão catalão é provavelmente a estratégia acadêmica com mais apoio científico em todo o mundo, superando mesmo a experiência do Quebeque nos anos sesenta-sententa. E que fazemos nós? Pois tentamos decidir entre o 50% como mínimo ou como máximo sem nenhum apoio empírico. É como discutirmos o sexo dos anjos. Bizantinismo puro e duro.

No País Vasco tamém se realizarom nos últimos 30 anos diferentes investigações sobre o grau de capacitação em euskera dos estudantes nas três linhas linguísticas principais: linha A (só castelão excepto a língua vasca), linha B (bilíngue, é dizer imersão parcial) e linha D (só euskera excepto a língua espanhola). Em Maio de 2005, o Instituto Vasco de Avaliação e Investigação avaliou o nível de euskera dos estudantes das três linhas fazendo um exame equivalente ao First Certificate inglês ou DELE espanhol. É dizer, avaliava-se o chamado Domínio Operativo Limitado. Só aprovarom o 47% do total dos alunos. Da linha D, aprovaron o 58%, da linha B o 27% e da linha A o 0%. Duas conclusões óbvias forom tiradas destes resultados: Primeiro, o modelo vasco incumple a Lei de Normalização que, como a lei galega, exige que os estudantes acabem com competências iguais nas duas línguas (não esqueçamos que o nível de castelão dos alunos vascos é superior à média espanhola segundo os informes PISA). Segundo, a linha D é a única que se aproxima do objectivo da Lei. A linha B (a nossa imersão parcial) fica mui lonxe desse objectivo. Quanto à linha A, não paga a pena fazer comentários. É importante ter em conta tamém a evolução do prestígio destas linhas. Nos anos oitenta, a linha A era a maioritária. Porém, em 2007, a linha D é escolhida em infantil polo 65% dos pais, a B, polo 28% e a A polo 6%. Invertirom-se as tendências. O estudo anterior explica bem por que os pais preferem agora a imersão total. Houvo uma tentativa política de mudar de modelo. Antes da victória do PSE de Patxi López, o governo vasco, em base às tendências dos pais e dos estudos acadêmicos, redigiu vários decretos que caminhavam em direcção a um modelo com uma única linha de imersão total. O governo actual, com o apoio do PP, parou o projeto. É uma decisão política, não técnica. Aqui Patxi é bem pior que Feijoo. O presidente vasco sabe, já que dispõe dos dados empíricos, que o modelo B de imersão parcial não é apropriado e que a linha A é uma desgraça. Mesmo assim, permite que os pais insensatos fagam essas escolhas. Feijoo pode defender legitimamente a imersão parcial porque ninguém lhe demonstrou que, para o caso galego, ela é pior que a imersão total. A sua fê no modelo não foi quebrada pola ciência. Não há estudos sobre o tema. Não temos dados esquematizados que o contradigam. Apenas experiências pessoais: os nossos filhos/as.

É preciso, portanto, fazer um seguimento e avaliação das competências reais dos estudantes. Temos já uma primeira oportunidade na 'Avaliación de Diagnóstico' que foi realizada em Outubro do ano passado promovida pola Conselharia de Educação. Se não me engano, ainda não temos os resultados. Mas nessa experência forom feitos exames de língua em galego e castelão. Devemos exigir que se publiquem os resultados e os protocolos de avaliação. Esta é uma via técnica, não política, para mudar de modelo se for necessário. As vias e estratégias políticas (hegemonia social do galego...) são tamém necessárias, evidentemente, mas não devem ser as únicas.

Mais uma última cousa. Existe a possibilidade de atingir o 66% em galego a partir do novo decreto: 33% em castelão, 33% em galego e 33% em português. O 33% de cadeiras numa língua estrangeira é voluntário. Todos os centros poderão ofertar cadeiras em português. Avante!  

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Naceu en Vigo en 1969. É licenciado en Filoloxía Hispánica pola USC e Doutor en Lingüística pola Université Blaise Pascal, Franza. Actualmente, é docente-investigador Ramón y Cajal na USC, especializado en lingüística computacional. Máis información na súa web persoal. »



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